Um ponto interessante observado na
Folia de Reis é a própria concepção de grupo, que perpassa o grupo de reisado,
estendendo-se a toda a comunidade com respeito, admiração e contribuição. Grupos
que se formam e harmonizam-se por circunstancias de necessidades e pelo próprio
meio em que estes estão inseridos.
O
grupo de Reisado da comunidade do Salto, é um bom exemplo disso, pois a sua
origem se dá a partir da busca por algo que possibilitasse lazer à comunidade,
como descreve Jaime Costa (Nego do Salto) em uma entrevista realizada em outubro
de 2012:
E
aí um dia nós falamos assim: gente, o nosso lugar já tem uma boa parte de
gente, um “bucado” fincando rapaz e moça e tal, o lugar nosso é muito “isquicido”
às vez pela a autoridade, do municípo e nem um movimento tem, umbora caçar
jeito de criar alguma coisa pra movimentar o lugar? Vamo. E fazer o que? Ó só a
coisa que todo mundo aqui gosta é quando Dumingo de Gino, que era o falado
Dumingo de Gino, né? Com o Giro de Reis, umbora cria um grupo? Vamo. E cumé que
faz? (Nego do Salto, 2012)
Nessa fala notamos que já se tem
formado um grupo na comunidade, porém que vai se configurando conforme as
circunstancias no caso do Salto, a elaboração de um grupo especifico de
Reiseiros de Lapinha. Valendo salientar mais alguns aspectos para que o grupo
sobreviva, pois para que tenha o grupo precisa-se das casas que os recebam, das
pessoas que os assistem e principalmente das mulheres que rezam suas ladainhas
e montam as Lapinhas. Outro ponto muito importante sobre a configuração desse
grupo, é, a relação dos integrantes que vai além dos objetivos específicos
do que a Folia de Reis pede, que é o “adjutório” que julgo ser o espirito desse
grupo. Adjutório seria o ato de o conjunto ajudar quando alguém precisa. Um
exemplo seria se um integrante corre o risco de não poder participar do “giro”
deste ano, por que precisa plantar uma roça, ou telhar a sua casa, todo o grupo
se reúne para acudir em mutirão.
Essa breve explanação sobre o
grupo do Salto, é para falar sobre o trabalho realizado nesse encontro, pois
foi calcado nesse elemento de sentido/significado na Folia de Reis, que é a
construção e formatação de um grupo.
Após um trabalho voltado para o corpo
(relaxamento e alongamento através de impulsos), foi proposto a criação de um animal
com movimentos próprios e inéditos, depois com ajuda de alguns estímulos/palavras
foi orientados a sair do individuo para o coletivo, como por exemplo: se
conhecer, ver, encontrar, estranhar, aproximar, tocar, recuar, relacionar,
brincar, desavença, despedida, saudade, desencontro, encontro... Todos
esses estímulos sendo desenvolvido de forma gradativa e bem pessoal
(cada um em seu tempo, se observando e conhecendo o outro).
As fotos trata-se desse processo. Os efeitos de foco dado nas imagens correspondentes a relação com os estímulos propostos e desse corpo que busca o coletivo.
Com a obtenção de um corpo acordado, e para não perder a energia acumulada pela atividade, prosseguimos o processo com a contribuição de outros estímulos. O trabalho prossegue com o uso de objetos (instrumentos e ferramenta do universo das comunidades que a manifestação estudada pertence) que foram ressignificados pelos cursistas a partir do que era pedido pela energia conseguida até o momento, de já que se trata de um trabalho processual. Esse processo foi dividido em etapas:
Os objetos que te chamam atenção e a construção de personagens a parti deles;
A troca dos grupos de objetos levantados por cada cursista, e o experimento no corpo que cada um tem elaborado;
A produção sonora do corpo e o dialogo com os demais, fazendo um só corpo sonoro;
O outro construir um personagem no seu corpo;
E exercício de improvisação com uma problemática:
Alguém do grupo tem um filho doente e não poderá estar junto na atividade que todos planejaram, pois essa pessoa precisará trabalhar para ajudar em casa.
A orientação dada foi que o grupo elegesse quem seria o integrante com problema e que este começassem a atividade a partir do consenso do mais olhado.